Encontros da Confraria

Encontros nas terceiras terças feiras do mês, na Do Arco da Velha Livraria e Café, das 19h às 20h30min..

domingo, 28 de dezembro de 2014

O Fantasma de Canterville


No 62º Encontro da Confraria Reinações de Caxias, falamos sobre a obra "O Fantasma de Canterville" de Oscar Wilde.
A explanação sobre a obra ficou a cargo da Confreira Domenique Grigolo Pastore.




Sobre o Autor e a Obra:

  Oscar Fingal O'Flaherty Wills Wilde foi um escritor, poeta e dramaturgo Irlandês. Nasceu em 16/10/1854 e faleceu em 30/11/1900.
  Foi discípulo de John Ruskin, autor do livro "Evangelho do Trabalho", onde embebedou-se nas idéias estéticas do mesmo e em Walter Pater, criador da prosa artística na Inglaterra.
  Um dos escritores mais originais do fim do século XIX, wilde produziu obra de rara beleza, criando um mundo ideal de conceitos que se chocavam com a realidade. O amor aos paradoxos, que estão inçados em todos os seus trabalhos, leva-o frequentemente a uma inversão quase doentia do sentido das coisas.
  Oscar viveu numa época em que a literatura assumia uma feição "decadente", época essa que já tinha esgotado os melhores frutos do romantismo, de que Wilde e Tennyson eram os últimos representantes.
  Há a favor de Wilde, o aspecto satírico de sua obra voltado à sociedade de seu tempo, em particular à Aristocracia Britânica, cuja ridicularização em alguns de seus romances e peças teatrais lhe custaram um processo infamente e sua liquidação moral como escritor.
  Ao deixar Oxford, casa-se com Constante May Lloyd, mulher de fortuna, que lhe proporcionaria os meios de viver na sociedade londrina.

  No ano de 1889, suas primeiras obras dramáticas foram representadas nos Estados Unidos, e dois anos depois publicou os trabalhos: "Intenções" e "O Retrato de Dorian Gray", obra onde procura demonstrar a falsa tese de que a vida copia a arte, provocando um escândalo na época, pois Wilde concentrou o ideal de beleza artística nas formas masculinas, o que era demasiado chocante para o puritanismo inglês.
  Em 1893 escreve o poema "Salomé" em francês para se representado por Sara Bernhardt. É um poema pagão de beleza inexcedível, que Richard Strauss musicou. Essa peça foi  proibida de ser representada em Londres, pela tradução de Alfred Douglas.
  É nesse período que a amizade com Lord Douglas causa o terrível processo pelo qual Wild foi vitimado. Lança várias obras de teatro como "O Leque de Lady Windermere", "Uma Mulher sem Importância" e a "Importância de ser Ernesto".
  Pelo ano de 1895, a aristocracia Britânica, irritada profundamente por causa das sátiras cada vez mais mordazes de Wilde, resolvem tomar a ofensiva e processá-lo, por homossexualismo. Não podendo apresentar provas em contrário é sentenciado a dois anos de prisão celular com trabalhos forçados. (Pena que consistia num ato de repetição diária em trançar e desfazer uma corda, acabou por levá-lo a um terrível suplício moral).
  Em, maio de 1895, Wilde pode recobrar a liberdade mediante fiança, não encontrou nenhum lugar que quisesse hospedá-lo e teve que asilar-se na casa de um irmão. Pouco tempo depois, o processo dá continuidade e acaba indo novamente para o cárcere para cumprir o resto da pena. Durente a estadia às várias prisões pública seu mais fascinante livro "De profundis".
  Ao readquirir a liberdade, Wilde teve o dissabor de ser abandonado pela esposa e não teve mais coragem de ver seus filhos, Cirilo e Viviano. Abandona a Inglaterra e oculta-se num povoado Francês de Berneval-sur-Mer, sob o pseudônimo de Sebastião Melmoth. Viveu errante por um tempo, viajou para Suiça, França e Itália, sempre sem dinheiro, sofrendo privações, desalentado e dependendo da generosidade dos amigos.

  Em outubro de 1900 Wilde adoece e falece em 30 de novembro no hotel d'Alsace. Foi enterrado em "Pere Lachaise", depois das inúmeras formalidade policiais advindas da  falsa identidade que adotara com seu pseudônimo. 
  O amargor de Wilde, fruto de seu intenso sofrimento moral pode ser expressado por essas palavras: "A vida? A vida... Ela vende tudo muito caro e nóas compramos os mais mesquinhos de seus segredos a um preço monstruoso e infinito".

Fonte:
Extraido e condensado de Galeria de Homens e Mulheres Célebres vol. II.


Nossos Confrades com a participação especial do Sir Simon de Canterville


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Branca de Neve na 30ª Feira do Livro de Caxias do Sul


    Em nosso 61º encontro falamos sobre a Branca de Neve. Encontro esse que ocorreu na 30ª Feira do Livro de Caxias do Sul no dia 14 de outubro de 2014.
    Nesse encontro falamos sobre os diversos contos que de alguma forma fazem alusão à obra Branca de Neve.
    As explanações do Encontro ficou a cargo do confrade Rogério Becker.



A jovem escrava 1634
Transcrita por Giambattista Basile, esta é a primeira transcrição que se conhece da fábula da Branca de Neve.
Fazia parte de um dos cinquenta contos reunidos por Basile no livro O Pentamerão - em alusão ao Decamerão de Boccacio -
Apesar de ser o primeiro registro escrito de Branca de neve, também há outros contos famosos como Rapunzel e Cinderela. Os historiadores não tem como precisar a influência desse livro para outros trabalhos europeus, visto o seu dialeto Napolitano.
Podemos inserir neste contexto a oralidade das fábulas, pois Basile precedeu Perrault em 50 anos e os Grimm em 200.
O texto A jovem escrava mostra que o tema central é o ciúme (sendo esse aspecto o que une todas as versões de Branca de Neve). Ainda assim há outros pontos que unem as demais versões:
- O número sete. - Sete Anões, Sete ladrões (no conto Maria, a madrasta má e os sete ladrões), sete caixões de cristal (A jovem escrava),


- O pente envenenado, a protagonista caindo em sono profundo (dada como morta).
Outro tema constante nas demais versões é o martírio da protagonista. (Conforme os historiadores, esse pensamento Cristão de que, para encontrar a salvação é necessário passar por provações, é claramente uma forma de passar a mensagem para as camadas mais desprivilegiadas que não importa o quanto a vida seja dura, a recompensa virá de alguma forma).
Nesta versão Lisa (Branca de Neve), recebe uma maldição de uma fada que quando completasse 7 anos, ao pentearem seu cabelo, seria esquecido um pente nele e ela morreria. Sua mãe a coloca dentro de sete caixões de cristal e deixa para que seu irmão cuide, para que nada aconteça com o corpo da menina. Com o passar do tempo acaba morrendo de desgosto.
Sua tia acaba descobrindo esse caixão e num acesso de ciúmes (por causa da idolatria do tio, seu esposo, pela menina) acaba arrancando-a do caixão pelos cabelos derrubando o pente. A menina acorda e passa por inúmeros martírios até que seu tio descobre e manda sua esposa embora.
Nessa versão, não há punição contra o mal. Fato esse que com o passar do tempo e diferentes versões, as ações da "madrasta" são punidas.



Branca de Neve 1812
Os Irmãos Gimm publicaram a primeira versão da Branca de Neve em 1812 no livro intitulado Contos da criança e do lar, que nada mais era que uma coletânea de diversos contos orais passados de geração a geração desde meados do século XII. Além de estudiosos do folclore eram também pesquisadores da sua língua materna cujo sonho era fazer um grande dicionário alemão.
Quando a primeira versão do livro foi lançada seu objetivo era que estudiosos a adquirissem, tanto é que a primeira edição mais parecia um trabalho acadêmico, repleta de anotações e referências.
O inesperado sucesso da obra fez com que novas edições ( ao todo 7 em vida) fossem lançadas, ocorrendo a supressão de conteúdo que ambos julgavam inadequados para crianças.
No original de 1812, quem infligia todo o sofrimento à personagem é sua própria mãe. Nas edições seguintes os autores decidem trocar para a madrasta. (com o objetivo de santificar a mãe e preservar a imagem da instituição família).
Outra mudança de 1812 ocorre no despertar da garota, quando um servo derruba o caixão. Ver pg. 13.
Uma das partes que compramos quando lemos o conto é o conceito de beleza expresso pelo espelho mágico (o que é belo pra uns pode não ser belo pra outros).
Outro ponto é o caçador, que ao invés de matar Branca de Neve a deixa sozinha no meio da mata selvagem à sua própria sorte.
Pode-se entrar no mérito do antropofágico, quando a madrasta come o fígado e os pulmões, para adquirir as qualidades da menina.
Além é claro do aspecto de necrofilia (pois quase todos os príncipes apaixonam-se por uma morta).


Há dois contos Italianos:
Maria, a madrasta má, e os sete ladrões de 1870; que tem mais a ver com outro conto João e Maria, por causa do caminho de farelo de pão.
O Caixão de Cristal de 1885; que mais parece um conto de Edgar Alan Poe, pelo lado sobrenatural e por intensificar a ideia de necrofilia, pois o Rei não passa de um tirano egoísta que mataria a própria mãe por não encontrar a garota no caixão.
Outro curtíssimo conto de origem Suíça, intitulado de A morte dos sete anões de 1856. Esse mais macabro que o de cima, onde os sete anões são assassinados e a garota desaparece.  


Há outro conto, esse Escocês de 1892 intitulado "Árvore Dourada e Árvore Prateada".
Nesse não há madrasta, é a própria mãe quem tem ciúmes da filha, ao invés de um espelho mágico, há uma truta mágica, em vez do pente envenenado há uma agulha, e como conto oral, adapta-se ao local emque está sendo contado, fato esse que contempla a poligamia das personagens.

A Branca de Neve pode ser comparada com a Bela Adormecida, alguns historiadores dizem que as duas histórias podem ter sido a mesma, mas que com a oralidade e o passar do tempo tomaram caminhos diferentes pela Europa.

Para o bem ou para o mal, não podemos deixar de falar da versão de Disney (1937) em que popularizou a fábula da Branca de Neve.

Bibliografia:
Branca de Neve, Os Contos Clássicos, seleção de Alexandre Callari.
Contos dos Irmãos Grimm, organização Clarissa Pinkola Estés.
www.grimmstories.com

   

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O Escaravelho do Diabo


   No encontro de nº 60 da Confraria Reinações Caxias, o livro indicado foi um clássico da literatura juvenil brasileira "O Escaravelho do Diabo" livro esse que faz parte da coleção Vaga-Lume, coleção esta que reúne mais de 60 obras voltadas para o público infanto.
   O encontro foi coordenado pelo confrade Dangelo Muller.



Pensando sobre “O escaravelho do diabo”
Dangelo Müller*

O escaravelho do diabo”, de Lúcia Machado de Almeida, foi originalmente apresentado aos leitores como uma espécie de folhetim policial, publicado semanalmente na revista “O Cruzeiro”, nos idos de 1956. Porém, pode-se dizer que a obra ganhou fama a partir de sua publicação compilada na série Vaga-lume, em 1972, sendo produzidas desde então 27 edições. É interessante perceber que o texto da autora permanece o mesmo, sofrendo apenas eventuais alterações das reformas ortográficas. Referências aos bondes, à moeda corrente da época (1956) e mesmo aos costumes dão um “ar” semelhante ao dos filmes noir, com a peculiaridade de um cenário e personagens mais próximos do público leitor.
A história se passa em Vista Alegre, uma pacata cidade dos anos 50, que vive os primeiros momentos de uma eventual modernização. Há um hospital local, um zoológico, um teatro, ruas com iluminação e calçamento, ou seja, trata-se de uma cidade diferente da maioria das cidades brasileiras da época, constituindo o palco perfeito para o desenrolar da trama policial e misteriosa ao estilo de Agatha Christie.
Os personagens do conto podem ser divididos em três classes: os protagonistas, os eventuais suspeitos e as vítimas. Dentre os protagonistas, temos Alberto, o estudante de medicina, que se converte em um dos investigadores dos crimes e o Inspetor Pimentel, policial encarregado de averiguar os estranhos casos acontecidos em Vista Alegre; entre o rol de suspeitos temos Verônica, a estudante de música e hóspede da pensão de Cora O'Shea; Sr. Graz, um professor suíço de Línguas, amigo de Verônica e também hóspede de Cora O'Shea; Cora O'Shea, a irlandesa dona da pensão e mãe de Clarence O'Shea; Mr. Gedeon, um americano representante de uma indústria de próteses e também hóspede de Cora O'Shea; Sub-inspetor Silva, o ajudante do Inspetor Pimentel e de Alberto, aparece pouco no livro e Elza, a copeira da pensão.
As vítimas atacadas pelo “inseto” são Hugo, o "Foguinho", a primeira vítima e irmão de Alberto é assassinado com uma antiga espada espanhola cravada no peito; Clarence O'Shea, o filho de Cora O'Shea, que morre envenenado por uma cápsula de cianureto colocada entre seus remédios; Maria Fernanda, uma cantora lírica que é assassinada em meio a uma performance de "Carmen", de Bizet, atingida por uma seta envenenada; um galo-da-serra, ave de uma raça em extinção que é estrangulada até a morte e tem todas as suas penas cor de fogo arrancadas; Rachel Saturnino, a linda filha de um antiquário que se torna a única sobrevivente dos ataques do "inseto"; Padre Afonso, o padre da paróquia local, um homem inteligente e corajoso que morre carbonizado durante o incêndio em sua igreja e, por fim, Mr. Graz, que morre carbonizado junto com o Padre Afonso.

O enredo começa com a reação de Alberto à chocante morte de Hugo. O estudante, junto com o Inspetor Pimentel, chega até um antiquário e averigua sobre a natureza da espada. Lá, o rapaz encontra Rachel, uma ruiva estonteante que se torna seu primeiro interesse romântico na obra. Algum tempo depois da morte de Hugo, há um novo homicídio: Clarence O'Shea, um menino ruivo que é envenenado de forma inusitada na qual o assassino mistura um forte agente tóxico em meio aos medicamentos para gripe do rapaz. Alberto começa a fazer a ligação entre o fato de seu irmão e do jovem O'Shea também terem recebido um besouro pelo correio, como uma espécie de anunciação à sua futura morte. O Inspetor tenta apaziguar as suspeitas do jovem estudante de medicina, explicando que tal acontecimento pode ser meramente incidental. Ao investigarem a pensão de Cora O'Shea, Alberto e Pimentel conhecem Mr. Graz, Mr. Gedeon e Verônica.  Alberto apaixona-se por Verônica e, a partir deste ponto, fica dividido entre prosseguir com as investigações ou namorar com a moça.
Pouco tempo depois ocorre o assassinato de outra pessoa ruiva: a cantora lírica Maria Fernanda. Em pleno palco, ela é alvejada por um espinho envenenado, projetado por uma zarabatana. Toda incredulidade do inspetor cai por terra quando ele e Alberto descobrem que, pouco tempo antes, a cantora havia recebido um pacote com um besouro. O policial se vê obrigado a aceitar a terrível hipótese de que está envolvido em um caso marcado pela presença de um serial killer. Desse ponto em diante, Alberto decide que deve se dedicar ao máximo em colaborar com a investigação policial e acaba, mesmo que involuntariamente, afastando Verônica. O estudante de medicina e o inspetor começam a alertar, sem alarde, os ruivos naturais de Vista Alegre para que se previnam caso recebam o fatídico embrulho com o besouro. Na verdade, a tarefa é consideravelmente fácil, pois restaram apenas dois ruivos na cidade: a estonteante Rachel Saturnino e o Padre Afonso. Há, na verdade, mais um “ruivo natural” na cidade, e este é a quarta vítima do terrível “inseto” - como passa a ser designado o criminoso: o pobre galo-da-serra do zoológico. O animal é exterminado e tem todas as penas de cores flamejantes arrancadas, causando comoção na sociedade.
À medida que o tempo passa, o cerco se aperta em direção à pensão de Cora O'Shea, pois tanto o estudante quanto o investigador pressentem que há um vínculo entre os hóspedes e empregados com a figura do famigerado criminoso. Quando a quinta vítima, Rachel, sofre um brutal atentado e escapada da morte por mero acaso, Alberto confronta os moradores da pensão e, para sua insatisfação, todos possuem álibis. Verônica sente-se extremamente ofendida por ser alvo de suspeitas e, após comprovada sua inocência, decide viajar, deixando Vista Alegre – e Alberto – para trás. A onda de crimes finalmente se encerra com a morte de Padre Afonso, que encontra seu fim nas chamas de sua própria igreja, junto de seu amigo, Mr. Graz, que estava, aparentemente, se confessando.
Numa espécie de anticlímax, o investigador e Alberto encerram o caso sem descobrir quem era o terrível inseto, pois todos os ruivos da cidade foram vitimados e Rachel, a única sobrevivente, estava tão chocada que não pôde dar detalhes significativos ao desenvolvimento do caso.


A conclusão da obra se dá por acaso: muitos anos depois, viajando pela Alemanha, Alberto conversa com um amigo sobre a mulher de que nunca foi capaz de esquecer, Verônica, e lhe mostra uma fotografia dela. O homem se sobressalta e reconhece, junto à moça na foto, o louco foragido Rudolf Bartels. Naquele momento, Alberto percebe que Mr. Graz era, na verdade, um nome falso que Bartels utilizava. O agora médico descobre que Bartels, um pesquisador de renome internacional, fora arruinado por seu colega ruivo e, após matá-lo, teve uma crise psíquica que gerou uma espécie de dupla personalidade. Quando Mr. Graz encontrava algum ruivo, seu lado Bartels retornava, transformando-o em um assassino impiedoso. Alberto fica chocado e compartilha suas descobertas com os demais envolvidos no caso, incluindo Verônica. O final da obra se dá com o nascimento do filho de Alberto e de Verônica, oportunamente chamado de “Hugo”, a primeira vítima do “inseto”.

Alguns pontos interessantes

Lúcia Machado de Almeida apresenta uma obra pontuada por elementos significativos: temos a simbologia do ruivo, dos escaravelhos, da dupla personalidade, do destino e do aprendiz, entre outras.
Ao sistematizar uma espécie de luta entre “os ruivos” e “o inseto”, a autora retoma o motivo mítico do escaravelho e do sol, em que, segundo a wikipedia
os escaravelhos, com inscrições gravadas na sua carapaça, ou objetos com forma de escaravelhos, constituíam amuletos muito populares no Antigo Egito. Na mitologia egípcia, o escaravelho sagrado estava relacionado com deus Khefri, responsável pelo movimento do sol, arrastando-o pelo horizonte; no crepúsculo, o sol (ou o deus Rá) morria e ia para o outro mundo (representado pelo oeste); depois, o escaravelho renovava o sol no amanhecer.
Algumas etimologias egípcias associam ainda escaravelho à palavra KHEPER, um verbo que envolvia o significado de criar e/ou transformar, convertendo o escaravelho em uma espécie de símbolo do renascimento e bastante presente em sepulturas antigas. Desse modo, Bartels, a “encarnação” do escaravelho, persegue, “move” e “transforma” as pessoas ruivas, as quais, por sua vez, são representações encarnadas do próprio sol na obra. Pode-se perceber a ocorrência de várias facetas do “deus Sol” no Escaravelho do Diabo:
1.         Hugo, o foguinho: pode-se dizer que é o sol da manhã, rompendo o frio da noite e tornando-se cada vez mais forte e ardente;
2.         Clarence O'Shea: o menino fraco e apagado pode ser análogo ao sol nublado, sempre obscurecido pela figura de sua mãe ou do irmão, ou mesmo pelo sol poente;
3.         Maria Fernanda, a cantora lírica, pode ser entendida como o sol do meio dia, no ápice de seu vigor e força, na posição central do “palco cósmico celeste”;
4.         Rachel Saturnino encarna a vivacidade do sol das tardes, o calor das longas horas de modorra emaranhado em seus longos cabelos até a chegada do ocaso;
5.         O galo-da-serra é uma representação do próprio nascer do sol, cujas penas flamejantes são análogas aos raios solares que atravessam o longo espaço cósmico;
6.         Padre Afonso parece atuar como o sol do ser, ou seja, a iluminação interior, de aspecto espiritual que aproxima o homem das instâncias celestes.




            Reforçando o aspecto de combate/movimento solar, nota-se que os crimes de Bartels são secretos e ocorrem nas horas noturnas, longe do “Olho de Rá”, ou seja, do sol. Desse modo, o escaravelho move “os sóis” pelo espaço celeste do enredo, conduzindo os personagens ao ocaso completo: sua morte, praticamente inevitável.
            Ora a própria questão da dupla identidade de Bartels/Mr.Graz é a encarnação da duplicidade dia/noite, do ciclo claro/escuro. Nesse aspecto, Lúcia Machado resgata algo de Stevenson, com seu “o Médico e o Monstro” em que o pacato Mr. Graz torna-se o diabólico Rudolf Bartels ao contemplar o ruivo ou vermelho flamejante. O “duplo” de Mr. Graz é seu reflexo em um espelho moral, uma versão invertida de seu próprio ser gentil e franzino, ou, antes, uma retomada ao amargor de um Rudolf Bartels, cientista genial desmoralizado pelo destino. Assim, o real, expresso na figura insana do cientista, cria a imaginação de um novo eu, o pacato professor de Línguas, e o gatilho das cores cria o trânsito entre os polos da identidade do atormentado homem. A infelicidade de Bartels/Mr. Graz está em ser arrastado de sua imaginação de si mesmo pela realidade, imposta pelas cores. É a situação de que fala Cristina Martinho[1] citando Clément Rosset:
Quem recusa o real, tem seu retorno com juros, em virtude do antigo adágio estóico segundo o qual “o destino guia aquele que consente e arrasta aquele que recusa”[...] “Não se escapa ao destino” significa simplesmente que não se escapa ao real. O que é e não pode não ser. [...] O que existe é sempre unívoco: na borda do real, seja o acontecimento favorável ou desfavorável, os duplos se dissipam por encantamento ou maldição.
Frente às maquinações de Bartels, o estudante Alberto sempre se mostra insuficiente, perseguindo vestígios de pistas ou meras “sombras e vultos”. Configura-se, nas sombras, o duelo entre a sanidade do médico aprendiz e o cientista louco, em que o jovem persegue algo além de sua compreensão. Ora, Alberto, enquanto estudante pode ser entendido como um aprendiz ou ser cujos conhecimentos precisam ser apurados e depurados, sobrevivendo às provas que o adversário lhe impõe. Apenas quando torna-se, de fato e direito, médico, é que Alberto encontra a solução para a identidade do criminoso, ou seja, quando o iniciante cumpre os ritos e torna-se iniciado nos mistérios da vida e da morte, tudo passa a ser claro e o rapaz adquire uma espécie de “visão solar” de todo o mistério, tornando-se ele, Alberto, o próprio sol e renovando a vida com o retorno, ainda que apenas nominal, da primeira vítima do escaravelho: Hugo.

*Confrade e Mestre em Literatura.


[1]     MARTINHO, Cristina. ARTICULAÇÕES DO DUPLO NA LITERATURA FANTÁSTICA DO SÉCULO XIX. Disponível em:http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno09-04.html Acesso em 16 set. 2014.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O Corsário Negro

   Na 59ª Confraria Reinações Caxias, será discutida a obra "O Corsário Negro" do autor Emilio Salgari.
 

     O termo Corsário advém do Italiano corsaro, que significa comandante de navio autorizado a atacar outros navios. Um corsário era autorizado pelo seu governante através de uma carta de corso a pilhar navios de outras nações. Essa tática era usada como um meio fácil e barato para enfraquecer o inimigo por perturbar as suas rotas marítimas sem suportar os custos relacionados com a manutenção e construção naval de uma esquadra.


     Na verdade, um Corsário era um pirata que era autorizado pelo seu Governante a pilhar outras embarcações, sendo reconhecido como tal pela lei internacional. Sempre que um navio corso fosse capturado, este tinha de ser levado a um Tribunal Almirantado onde tentava assegurar de que era um verdadeiro Corsário. Contudo, era comum serem presos e executados como piratas pelas nações inimigas.
     O Corsário mais famoso foi Sir Francis Drake, que graças aos fabulosos tesouros que arrecadou para a Inglaterra, tornou-se Cavaleiro pela rainha Isabel I da Inglaterra.
    Já o termo Flibusteiro era uma classe de antigos piratas das Américas, que sob a ameaça permanente dos espanhóis em Hispaniola (Colônia Espanhola nas Américas, atual Ilha de São Domingos - Haiti), os bucaneiros transferiram-se para Tortuga, que oferecia um abrigo natural para barcos de grande porte, facilitando o contrabando dos bucaneiros com piratas e contrabandistas.
     A sua convivência com os fora-da-lei que frequentavam Tortuga, envolveu-os em atos violentos e de pirataria. Assim, a original sociedade bucaneira misturou-se com os piratas, formando uma nova sociedade de foragidos, os flibusteiros, cuja época marcou a idade de ouro da pirataria nas Antilhas, a época da flibustaria. Os flibusteiros autodenominavam-se de “Irmãos da Costa”.

Navio Confiance comandado pelo Corsário Francês Rpbert Surcouf, pintura de Ambroise Louis Garneray

    A época de ouro dos corsários inicia-se cerca de 1600 e extingue-se em 1702 quando Luís XIV da França se alia com a Espanha. Durante todo o século XVII emigrantes protestantes e aventureiros da Inglaterra, França e Holanda viajam para as Antilhas como contratados de explorações agrícolas, de cana de açúcar.
     Esses contratos eram autênticas amarras de servidão, Cuba, Hispaniola, Jamaica, etc.. Muitos rebelam-se e tornam-se caçadores de gado selvagem sendo denominados de bucaneiros, assim chamados por cortarem a carne em tiras que defumavam, bucan, hábito e palavra de origem caribe; podiam assim conservar a carne por longo tempo.

Autor e Obra:


    Emílio Salgari é um dos autores italianos mais traduzidos, apesar da sua obra ter sido ignorada pela crítica. Publicou 90 romances do gênero de aventura (e cerca de 100 apócrifos, que os editores inescrupulosamente criaram), normalmente envolvendo piratas. Conhecido como o "pai" de Sandokan.
    Nasceu em Verona a 21 de Agosto de 1862. Em 1879 entrou no Regio Istituto Tecnico e Nautico P. Sarpi, em Veneza, mas não chegou a obter o título de Capitão da Marinha como desejava.
    Durante a sua estadia no Istituto, navegou três meses no mar Adriático a bordo do navio Italia Una. Esta foi a sua experiência marítima mais significativa que juntamente com os seus estudos no Instituto deram-lhe muitos dos conhecimentos náuticos que utilizaria em sua obra.
    Em Outubro de 1883 inicia a publicação de "Os tigres de Mompracem" que abre o ciclo de Sandokan e conhece um notável sucesso. Apesar disso, o retorno financeiro não é o que esperava. Em 1884 viu publicado o seu primeiro romance, La favorita del Mahdi, que tinha escrito em 1877.
    Graças ao êxito destas obras consegue a posição de redator no periódico La Nuova Arena até 1893. Neste mesmo ano é preso por duelar com Giuseppe Biasioli que o ofendera num artigo. 
    Em 1887 sua mãe falece, em 1889 seu pai suicida-se, iniciando uma cadeia impressionante de suicídios familiares que inclui o do próprio escritor (1911) e de seus filhos, Romero (1931) e Omar (1963).
    Apaixonou-se por uma jovem inglesa, que mais tarde haveria de servir de arquétipo de heroína dos seus romances. Casa-se em 1892 com a atriz de teatro Ida Peruzzi. Nesse mesmo ano nasce a sua filha Fatima, Nadir (1894), Romero (1898) e Omar (1900). No mesmo ano muda para Turim onde fica até sua morte.
    Em 1897 o rei Humberto confere-lhe o título honorífico de Cavaleiro da Coroa Italiana
   Em 1907 passou a trabalhar para a editorial Bemporad para a qual escreveu dezenove novelas. O seu êxito entre o público juvenil seguiu crescendo, atingindo algumas das suas novelas tiragens de 100.000 exemplares.
   Apesar do trabalho incansável de Salgari e a preocupação em proporcionar um mínimo de condições à sua família, as dificuldades econômicas continuaram.
   As dificuldades econômicas, agravadas com a doença mental da esposa iniciada em 1903, a qual foi internada, acabaram por conduzi-lo ao suicídio em 25 de Abril de 1911, praticando um Seppuku. Tinha então 48 anos de idade.

domingo, 13 de julho de 2014

Nárnia volta para o 5º Aniversário da Confraria Reinações


    Em nosso 5º aniversário, fomos agraciados com o convite de realizarmos nossa tradicional confraria junto à Academia Caxiense de Letras.
    A obra escolhida foi um conto que já discutimos há muito tempo e que foi dada a tarefa de dar uma releitura  ao "O Leão a Feiticeira e o Guarda-Roupa" do autor C.S. Lewis.
    A festa ocorreu no Café Firenze no dia 12 de julho, juntamente com os membros da ACL.
    As fotos da comemoração, assim como uma pequena palhinha da análise da obra serão fruto de uma nova postagem. Por hora ficaremos com uma breve biografia desse grande autor.

     Clive Staples Lewis (CS Lewis), nasceu em Belfast, na Irlanda do Norte, em 29 de Novembro de 1898. A família era de fé anglicana e frequentava a Igreja da Irlanda. 
     Aos quatro anos de idade apelidou-se de Jacksie, em homenagem a um cão chamado Jacksie que presenciou o atropelamento e por não gostar de seus primeiros nomes, decidiu que passaria a responder apenas pelo mesmo nome do cão, que mais tarde foi abreviado para Jack. Com este novo pseudônimo ficou conhecido entre seus amigos mais próximos até sua morte e com ele por inúmeras vezes, assinou suas cartas. 



     Mesmo com a tenra idade Lewis já inventava histórias, dentre elas havia um reino com animais falantes o qual chamou de Boxen. Lewis não chegou a publicar a história deste reino de fantasia, mas o seu irmão Warren compilou e publicou. Também escreveu ensaios, contos e romances.
     O autor tinha como passatempo favorito, esconder-se dentro de um velho guarda-roupa de carvalho feito pelo seu avô, Richard Lewisl, onde contava suas aventuras, assim relata sua prima Clarice Jack.
     Em 1907, fica órfão da mãe. Neste mesmo ano vai estudar em Wynyard School, em Watford, mas tem problemas com adaptação, onde Lewis e seu irmão foram submetidos a vários castigos físicos dados pelo diretor, Robert Capron (conhecido como “Velhote”). Fechou poucos meses depois por falta de alunos por isso vai para a Campbell College, Lewis precisou sair por causa de problemas respiratórios e foi levado à cidade de Malvern, na Inglaterra, para a escola Cherbourg House, perto de sua casa em Belfast. No segundo semestre de 1913, Lewis foi matriculado na Malvern College e lá permaneceu por um ano – acabou implorando ao pai, ameaçando inclusive com o suicídio, que o tirasse do lugar devido às dolorosas experiências que passou.
     Durante os estudos na Inglaterra, Lewis escreve uma nova versão do mito nórdico de Bound, anos depois este reconhece que a personagem Loki o representava.
     Em 1911, Lewis inicia aulas particulares com, William T. Kirkpatrick, conhecido como “O Grande  Crítico”, que fora tutor do seu pai, lhe era muito querido e mesmo não sendo prosélito, fornecia ao aluno uma gama de argumentos de defesa ao ateísmo. Lewis gostava muito de aprender sobre biologia e mitologias grega e nórdica com ele .
     Todas essas mudanças e experiências negativas de uma educação baseada na intimidação fizeram com que C. S. Lewis, em plena adolescência (aos 15 anos), abandonasse o cristianismo e passasse a subscrever o ateísmo. Mesmo sendo neto de pastor e criado nos rigores da fé cristã pelos seus pais, o jovem tornou-se um ateu convicto. Lewis não tinha interesse no que via de numa religião imposta e cheia de obrigações, culpas e regras. Estava cada vez mais convencido, sob influência de Freud, que era a grande influência ideológica da época, de que a figura de Deus não passava de uma “ilusão” dos nossos desejos mais profundos.
     Em 1916, consegue uma bolsa na Universidade de Oxford, mas por motivo da I Guerra foi convocado para o exército e luta na linha de frente na França. Em abril de 1918 é ferido em Arras e retoma os estudos em 1919 até 1923, sendo então, diplomado em primeiro lugar em Literatura Grega e Latina, Filosofia e História Antiga e em Língua Inglesa. 




     Durante a Primeira Guerra Mundial, Lewis tornou-se amigo de outro soldado irlandês, Edward Courtnay Francis “Paddy” Moore. Ambos se comprometeram a cuidar um da família do outro, caso algum deles falecesse. Paddy faleceu no último ano do conflito e Lewis acabou por retornar para casa por causa de um ferimento em combate. A promessa foi cumprida por Lewis, que trouxe para a sua casa a mãe de Paddy, Janie Moore, e a sua irmã, Maureen. A presença da Sra. Moore foi muito importante para Lewis em sua recuperação no hospital. Seu afeto a colocou como uma nova mãe para ele. Infelizmente, em 1940, tiveram de mudá-la para um lar de idosos, por causa dos sintomas de demência, mas ele permaneceu a visitá-la todos os dias. A Sra. Moore faleceu em 1951.
     Durante os estudos e para auxiliar na renda da nova família, Lewis trabalhou como professor no Magdalen College de 1925 a 1954, no qual tornou-se Membro Sênior e, no último ano, tornou-se Catedrático de Literatura Medieval e Renascentista em Cambridge.
     Em 1929 Lewis tornou-se um teísta. Em Surpreendido pela Alegria, Lewis comentou sobre o momento em que se tornou um teísta*.

*Teísmo (do grego Theós, "Deus") é um conceito surgido, no século XVII (por R. Cudworth, 1678), que sustenta a crença em deus, opondo-se ao ateísmo. É uma crença na existência de deuses, seja um ou mais de um, no caso de mais de um, pode existir um supremo. Teísmo não é religião, pois não se trata de um sistema de costumes, rituais e não possui sacerdotes ou uma instituição. Teísmo é apenas o nome para classificar a opinião segundo a qual existe ou existem deuses. Algumas religiões ou posturas filosóficas são teístas, outras são deístas, panteístas, etc.

          “No semestre do Trinity College, em 1929, eu cedi, admitindo que Deus era Deus, caí de joelhos e orei: talvez, naquela noite, eu fosse o mais desanimado e relutante convertido em toda a Inglaterra.” (C. S. Lewis)


     Lewis foi um dos idealizadores do “clube” The Inklings, um grupo de amigos vinculados à Universidade de Oxford que se reunia para discutir literatura, em especial mitologia, de 1930 a 1949. Este grupo de escritores e poetas é considerado o mais influente do século XX.
     Em setembro de 1931, após uma longa conversa com Tolkien e Hugo Dyson, Lewis ficou convencido de que a fé cristã era real, e em 28 de setembro de 1931, Lewis retornou para a fé cristã.
     



    No dia 2 de setembro de 1939, quatro meninas evacuadas da II Guerra Mundial são acolhidas em The Kilns (residencia de CS Lewis). Para distrair as crianças, Lewis iniciou uma história, que foi abandonada rapidamente, sobre quatro crianças refugiadas da guerra que ficam por um tempo na casa de um velho professor.
     Os nomes das crianças na história eram Ann, Martin, Rose e Peter. Foi o começo do que viria a ser seu maior sucesso. Em 16 de outubro do mesmo ano, o primeiro livro da série Nárnia, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa, foi publicado e assim nascia à famosa série As Crônicas de Nárnia.
     Na década de 50, Lewis conheceu pessoalmente a escritora norte-americana Helen Joy Davidman (ou Joy Gresham, por causa do primeiro marido), com a qual já se correspondia há algum tempo. Ela, que havia acabado de chegar à Inglaterra com seus dois filhos, David e Douglas, estava separada do marido alcoólatra e violento para tentar uma nova vida lá. Lewis tornou-se um grande amigo e amparo, inclusive se casando com ela no civil para que pudesse viver legalmente no país. Pouco tempo depois, Joy foi internada reclamando de dores nos quadris. Constatou-se que se tratava de um câncer ósseo terminal. A relação deles tomou novos rumos no período em que Lewis a acompanhou no hospital. O que era uma amizade se revelou outro tipo de amor e em março de 1957, quando ele tinha 60 anos, realizaram o casamento religioso no próprio quarto de internação. O câncer teve um período de recuo que propiciou ao casal viver em casa e inclusive fazer uma viagem pela Grécia e pelo Mar Egeu. Em 1960 houve uma recaída forte, que culminou no falecimento de Joy. O sofrimento causado pela perda de um amor tão recente redundou em um de seus últimos clássicos, Anatomia de uma Dor. 




     Após a morte de sua amada esposa, Lewis estava com 64 anos e começou a ter problemas de saúde. Em junho de 1961 foi diagnosticado com inflamação nos rins e as crises fizeram com que faltasse várias vezes às aulas que ministrava. Dois anos depois, Lewis foi internado e, no dia seguinte, 16 de julho de 1963, sofreu uma parada cardíaca e ficou em estado de coma durante 21 horas. Ao retornar para casa não estava mais em condições de dar continuidade às atividades como professor e se demitiu da posição de catedrático em Cambridge. Em novembro daquele ano foi diagnosticado em fase terminal de insuficiência renal. 

    No dia 22, uma semana antes do seu aniversário de 65 anos, Lewis faleceu em seu quarto e foi enterrado no cemitério da Holy Trinity Church – a poucos metros de sua casa. A notícia de seu falecimento foi ofuscada na mídia pelas notícias do assassinato do presidente Kennedy e da morte de Aldous Huxley, autor do livro Admirável Mundo Novo, que aconteceram no mesmo dia. 


Fonte: http://sociedadecslewis.com

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Revolução dos Bichos

  Na nossa 57ª Reunião da Confraria Reinações Caxias que ocorreu na fria e chuvosa data de 17 de junho, foi abordada a obra " A Revolução dos Bichos" do autor George Orwell, cuja coordenação foi da Confreira Helena Dossin.

 " Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros. "

  

    Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco. 

   O autor, George Orwell, cujo nome verdadeiro é Eric Arthur Blair, foi professor primário, jornalista e auxiliar de escritório. Nasceu na Índia, em 1903, serviu o exército de seu país, e escreveu "A Revolução dos Bichos", baseando-se nas experiências de sua vida, tornando-se um socialista, que critica os regimes imperialistas, seja ele o Capitalismo ou o Comunismo. Nesta obra, ele mostra, através de uma fábula, a falsa ilusão que estes sistemas causam na população, principalmente àqueles de menor capacidade econômica ou de menor bagagem intelectual, que quanto mais trabalham, mais pobres e famintos ficam.
   

    George Orwell foi um libertário. "A Revolução dos Bichos", em suas metáforas, revela uma aversão a toda espécie de autoritarismo, seja ele familiar, comunitário, estatal, capitalista ou comunista. A obra é de uma genial atualidade. Apesar de tudo o que alguns poucos homens já fizeram e lutaram, ainda estamos e vivemos sob os que insistem em dominar aquém da ética e além da lei. Sejamos diligentes, a luta continua. Um dia conseguiremos distinguir a diferença entre porcos e homens.
Nélson Jahr Garcia












   

   

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Agatha Christie no 56º Encontro da Confraria


No dia 20 de maio de 2014 ocorreu nosso 56º encontro. A obra escolhida foi a Clássica Estória da Dama da Morte Agatha Christie, "O Caso dos Dez Negrinhos", cujo nome foi alterado para "E não sobrou nenhum". 
A coordenação do encontro foi da confreira Tatiane Becker. 




Sobre a Autore e a Obra:

Agatha Mary Clarissa Christie (nascida Miller; Torquay, 15 de setembro de 1890 — Wallingford, 12 de janeiro de 1976), mundialmente conhecida como Agatha Christie, foi uma romancista policial britânica, autora de mais de oitenta livros. Os livros de Christie são os mais traduzidos de todo o planeta, encontrando-se pelo menos em 103 idiomas diferentes. Venderam mais de 400 milhões no total e são superados apenas pela Bíblia e pelas obras de William Shakespeare.
Conhecida como "Duquesa da Morte", "Rainha do Crime", dentre outros títulos, criou os famosos personagens Hercule Poirot, Miss Marple, Tommy e Tuppence Beresford e Parker Pyne, entre outros. Agatha Christie escreveu também sob o pseudônimo de Mary Westmacott.


Ten Little Niggers, no Reino Unido, ou And Then There Were None, nos Estados Unidos (O Caso dos Dez Negrinhos, no Brasil e Convite para a Morte ou As Dez Figuras Negras, em Portugal) é um romance policial de Agatha Christie, publicado em 1939. É o livro mais vendido de Agatha Christie, e também um dos maiores best-sellers de todos os tempos, com cerca de 100 milhões de cópias vendidas.
O título do livro causou polêmica, principalmente nos Estados Unidos, por conta dos "negrinhos" no título. Por isso, no mercado norte-americano ele é conhecido como And Then There Were None ou Ten Little Indians. O livro chegou a ser publicado no Brasil nos anos 50, com o título de O Vingador Invisível, e em 2008, com o título de E Não Sobrou Nenhum.
A história passa-se numa ilha deserta situada na costa de Devon, sendo que ela é narrada totalmente na terceira pessoa e descreve a vivência de dez estranhos (entre si) que foram atraídos para a mansão da ilha por um misterioso homem, que têm as iniciais: U. N. Owen.

No primeiro capítulo do livro (dividido em oito partes) é relatada a viagem de oito dos dez estranhos, que se encontram todos a caminho da ilha. Nesta primeira fase conhecem-se os motivos que as oito pessoas têm de se dirigir à ilha. Na data combinada, os oito chegam no lugar, encontrando-se com os criados de U. N. Owen: Mr. e Mrs. Rogers. Os mesmos contam que seus patrões, por motivos pessoais, não puderam vir para a ilha, e que os convidados terão de esperar um pouco pela sua chegada.
Mais tarde, quando os hóspedes terminam o jantar, uma voz vinda de um gramofone colocado junto à parede de uma sala contígua faz acusações contra os dez (os oito convidados e o casal Rogers), todas elas envolvendo a morte de alguém. É eletrizante o fato de que no final é comprovado que todas as acusações, com exceção de uma, eram de fato verdadeiras.
Amedrontados e indignados com o que acabaram de ouvir, os convidados tentam procurar com Mr. Rogers informações sobre o casal U. N. Owen (abreviação de Unknown “desconhecido, incógnito, anônimo”). Mas ele nega com veemência sequer conhecê-los. Eles encontram o disco que tem o nome "O Canto do Cisne". Todos estão assustados e temerosos, com exceção de um deles, um jovem altamente imprudente. Sem maiores dificuldades, todos decidem que a melhor coisa a fazer é sair do local pela manhã. O grande problema é que a única forma de locomoção é um barco que vem do continente, mas que pelo simples fato do mar estar agitado não consegue chegar na ilha.
Enquanto estão na ilha, todos vão sendo assassinados. Cada morte segue precisamente ou em parte o que diz um poema emoldurado no quarto de cada um (mostrado abaixo). A medida que as mortes vão ocorrendo, fica claro para os hóspedes que um deles é o assassino e para piorar a situação, as condições climáticas impedem que eles saiam da ilha ou peçam ajuda.


O Poema

Ten Little Niggers (Os dez negrinhos) – Edição Inglesa

Ten little nigger boys went out to dine;
One choked his little self and then there were Nine.
Nine little nigger boys sat up very late;
One overslept himself and then there were Eight.
Eight little nigger boys travelling in Devon;
One said hed stay there and then there were Seven.
Seven little nigger boys chopping up sticks;
One chopped himself in halves and then there were Six.
Six little nigger boys playing with a hive;
A bumble bee stung one and then there were Five.
Five little nigger boys going in for law;
One got into Chancery and then there were Four.
Four little nigger boys going out to sea;
A red herring swallowed one and then there were Three.
Three little nigger boys walking in the Zoo;
A big bear hugged one and then there were Two.
Two little nigger boys sitting in the sun;
One got frizzled up and then there was One.
One little nigger boy left all alone;
He went out and hanged himself and then there were None.

  
And Then There Were None (E não sobrou nenhum) – Edição Americana

Indian Island

Ten little Indian boys went out to dine;
One choked his little self and then there were nine.
Nine little Indian boys sat up very late;
One overslept himself and then there were eight.
Eight little Indian boys travelling in Devon;
One said he'd stay there and then there were seven.
Seven little Indian boys chopping up sticks;
One chopped himself in halves and then there were six.
Six little Indian boys playing with a hive;
A bumblebee stung one and then there were five.
Five little Indian boys going in for law;
One got in Chancery and then there were four.
Four little Indian boys going out to sea;
A red herring swallowed one and then there were three.
Three little Indian boys walking in the Zoo;
A big bear hugged one and then there were two.
Two little Indian boys sitting in the sun;
One got frizzled up and then there was one.
One little Indian boy left all alone;
He went and hanged himself
and then there were none.


O Caso dos Dez Negrinhos ( Tradução da versão Inglesa)

Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir: não é biscoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos vão a Devon de charrete;
Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos de uma colméia fazem brinco;
A um pica uma abelha, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos no foro, a tomar os ares;
Um ali foi julgado, e então ficaram dois pares.
Quatro negrinhos no mar; a um tragou de vez
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no Zôo.
E depois? O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um;
Ele então se enforcou, e não ficou nenhum.


E não sobrou nenhum (Tradução da versão Estadunidense)

Dez Soldadinhos saem para jantar, a fome os move;
Um deles se engasgou, e então sobraram nove.
Nove Soldadinhos acordados até tarde, mas nenhum está afoito;
Um deles dormiu de mais, e então sobraram oito.
Oito Soldadinhos vão a Devon passear e comprar chiclete;
Um não quis mais voltar, e então sobraram sete.
Sete Soldadinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles cortou-se oa meio, e então sobraram seis.
Seis Soldadinhos com a colmeia, brincando com afinco;
A abelha pica um, e então sobraram cinco.
Cinco Soldadinhos vão ao tribunal, ver julgar o fato;
Um fica em apuros, e então sobraram quatro.
Quatro Soldadinhos vão ao mar; um não teve vez,
Foi engolido pelo arenque defumado, e então sobraram três.
Três Soldadinhos passeando no zoo, vendo Leões e bois,
O urso abraçou um, e então sobraram dois.
Dois Soldadinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então sobrou só um.
Um Soldadinhos fica sozinho, só resta um;
Ele então se enforcou, e não sobrou nenhum.

             Confrades concentrados em saber quem é o assassino.